Suicídio. Um tema delicado que eu vou tratar nesse texto com toda a minha falta de cuidado pessoal. As vezes isso é bom. As vezes é o que precisamos.

Não sei para quem é esse texto. Para as pessoas que estão pensando em se matar? Para os que perderam um conhecido, familiar ou amigo?

É difícil escrever para um completo desconhecido de quem eu não sei nada. Embora quantitativamente o indivíduo que cometa este ato tenha um perfil, majoritariamente masculino, no Brasil especificamente jovens homens negros com até onze anos de ensino e sem cônjuge. Mas esse é um problema que pode afetar qualquer pessoa independente do gênero, idade, classe social ou raça. Trata-se de um fenômeno multicausal que pode ter ligação com cultura, condições econômicas, biológicas entre outras.

Qual o objetivo desse texto? Hoje é o dia da prevenção ao suicídio, esse é o objetivo desse textos? Prevenir! Como prevenir contra uma coisa dessas? Prevenir quem? As pessoas que estão dando sinais de que querem se matar? As pessoas que convivem com pessoas que podem estar pensando em tirar a própria vida? E se a pessoa não der sinais? É um assunto tabu, existe medo e vergonha de se falar sobre isso, e com razão, afinal o mundo não é um lugar acolhedor apesar de muitas vezes as pessoas nos surpreenderem para o bem ou para o mal.

Talvez esse texto seja um desabafo. Em poucos dias irei fazer aniversário, eu sobrevivi a mais um ano. Já aviso que não vai ter festa, somos pobres e cansados demais para isso. Sinto simpatia pelas pessoas que estão pensando em acabar com tudo porque eu também já pensei em acabar com tudo.

Eu vivo numa cidade pequena do interior sem grandes oportunidades, um lugar que não se desenvolve muito em comparação com as cidades vizinhas. Embora eu entenda que as causas dos meus problemas são sistêmicas e como indivíduo tudo o que posso fazer é resistir eu sempre me senti um fracasso. Eu sou uma pessoa autista. Eu não gosto de ser um peso para a minha família. Embora eu saiba que eles me amam de verdade eu ja pensei em me matar porque pensava que isso seria o melhor para todo mundo. Meu desamor por mim, minha falta de autoestima. Eu não sou o que a sociedade chama de exemplo de ser humano de sucesso. Somos todos afetados de alguma forma pela pressão de desempenhar esses papeis que a sociedade nos empurra guelra abaixo.

Eu entendo o que leva um ser humano a buscar consolo na dor. Eu ja me machuquei muito. Acho que é um comportamento mais comum do que se acredita, uma forma de lidar com o estresse. Hoje menos, porque estou tomando meus remédios corretamente e indo a consultas com psicólogo e psiquiatra. Eu sei que nem todo mundo tem acesso a isso, nem todo mundo tem condições materiais de procurar ajuda. Cada pessoa é diferente, nem sempre o que dá certo para uma da para a outra.

Você não é covarde. Você não é uma vergonha. Você é apenas um ser humano.

Ninguem deveria precisar passar por isso sozinho. Mas como julgar uma pessoa que está passando por sofrimento insuportável, intolerável e interminável.

Nesse mundo competitivo e individualista em que a gente vive pode-se sentir tão só mesmo estando numa multidão de pessoas.

A vida é cheia de pequenos prazeres. Mas e quando você não consegue mais sentir prazer em fazer nada? E quando você está a deriva num oceano sem esperança de salvação? Ainda assim a vida vale a pena? As pessoas que se salvaram de tirar a própria vida dizem que sim. Acho que esse é o momento clichê em que eu indico que caso você esteja pensando em se matar entre em contato com o Centro de Valorização da Vida, disque 188. Não me Julgo um ser persuasivo então não tenho esperança de ajudar ninguem com esse texto. Existem coisas que ajudariam mais as pessoas que sofrem desse mal do que palavras. Por exemplo acesso a trabalho digno bem remunerado, moradia decente, saúde de qualidade, contato humano. Acho que um abraço seria bom também? Não sou muito de contato físico mas gostaria de poder te abraçar, secar suas lágrimas, dizer que tudo vai ficar bem e te ajudar com seja lá o que te aflige... isso é meio esquisito? Nem nos conhecemos direito.

O setembro amarelo é importante. Mas as pessoas são meio hipócritas. Chega essa data todo mundo celebra a vida, o resto do ano desdenham das dores alheias. Ah, vão se danar todas elas.

Aonde estavamos mesmo? Acho que é melhor terminar com isso logo. Se ficar muito longo ninguem vai querer ler. As pessoas reclamam dos vídeos do tiktok mas ninguem fala nada do formato microblog e da preguiça de se ler textos longos, eu me incluo nesse problema.

Eu cheguei a conclusão de que gosto de viver escrevendo isso. Não é sempre mas eu tenho os meus momentos. As vezes eu não consigo sentir prazer, as vezes eu não consigo ficar feliz e aproveitar a vida e isso irrita as pessoas ao meu redor. E esta tudo bem. Acho que nesse texto eu deveria celebrar a vida, mas quero confidenciar a você que está lendo que eu também admiro a morte, não de uma forma romântica embora a da DC Comics seja uma gatinha, mas eu idealizo a boa morte, a morte de causas naturais, a morte de velhice, a despedida digna, o descanso eterno. Não estou incentivando ninguem a se matar eu acredito que a morte é o caminho natural após uma vida plena, longa e próspera. O ciclo sem fim, como O Rei Leão nos ensinou. Acredito que tudo tem uma hora certa, e que cada fase da Vida vale a pena ser vivida. E acredito que violar a infância, adolescência, vida adulta e inverno da existência de alguém é algo horrível. Me entende? Se você passou por isso eu sinto muito. A vida é injusta mas ela vale a pena ser vivida nem que seja por mera curiosidade pelo dia de amanhã.

Eu ja me sentie sem vontade de viver. Mas agora eu tenho essa vontade de viver e tudo o que eu queria era poder dividir ela com você. Procurem sempre pela a sua vontade de querer viver. É uma sensação que vale a pena ter.