em todas as coisas do mundo, devaneio. em todos os cantos do meu habitat, precipícios e mofo. em todas as canções do mundo, nenhuma memória particular. viver e não viver parecem muito semelhantes pra mim.

eu tenho privilégios demais.

aquecido pelo calor de um abraço virtual, me desconecto da minha humanidade anterior. não me encanta o brilho da sua alma, por mais orvalhar que ela neve do céu. você me entende?

dentro de mim saturno gira seu anéis e ultrapasso, na velocidade do tempo, a luz.

estou para além do espaço das coisas visíveis, dos nossos corpos de faíscas estelares e sinapses de sofrimento contínuo. eu antes era, e ainda agora não sou aquilo que algum dia sonhei em não ser, porque continuo sendo. a gravidade me enraíza nessa realidade pálida e, apático, respiro esse ar de nenhuma ressurreição.

pedir a minha paciência é implorar pela minha redenção.

pássaro negro, se entorpece do ar da atmosfera e explode em supernova. vou destruir seu mundo de ideias e depois me apossar do seu manto de maia. do meu manto de maia. do nosso manto de maia.

fogos de artifício, um artifício da natureza em uma pintura de natureza-morta.

eu não sou mais todos os sonhos do mundo, e nenhuma ambição permanecerá. apenas uma muito rígida disciplina em descumprir todos meus compromissos.

eu ainda sou e, portanto, não existo. eu existo e, portanto, ainda posso um dia não ser. aos que entrarem por aqui, percam todas as esperanças.

a liberdade vive naqueles que caem.