talvez eu não estivesse no momento certo no lugar certo de um passado concreto pra esbarrar meus ombros nos seus.

talvez eu não tivesse estado perto de uma roda aberta de amigos, alerto pra te conhecer. primeiro.

talvez eu não tivesse te conhecido primeiro se eu não tivesse, assim desordenadamente, te conhecido.

a ordem dos fatores do caos do cotidiano comum não altera o resultado. mas porque, no final desse cálculo sarcástico, eu não pude, com o tempo que se passa entre os beijos e os abraços desfrutar o seu sarcasmo?

é preciso tempo pra ter tempo.

e eu estou aqui, contemplando o silêncio infértil de não correr o risco de te perder.

quem decide de quem você é se não você? você quem é.

eu estaria me perguntando a mesma sequência de coisas se o movimento tivesse sido o contrário? o seu nome seria uma variável em que no conteúdo eu preencheria o nome de quem eu conheci primeiro?

será que assim, desse modo, as coisas, diferentes, seriam exatamente iguais?

conhecido ninguém, ninguém sou eu. pensamentos de praias rasas. lamentos de noites pacíficas demais.

o que as pessoas se esquecem é que o futuro é tão inalterável quanto o passado. destino é um abismo de coragem. tempo contínuo é um abismo de entendimento.

e eu não aceito isso. eu amo isso.

porque apenas aqui, neste momento certo de espaço compartilhado certo nos contornos e formas incertas dessa memória absolutamente incompleta, eu encontro a carne.

das futuras peles nunca tocarei a sua. por isso basta, em um instante de contato visual, talvez por incoerência minha ou talvez justamente pela coerência dos meus sentimentos, desfrutar a aproximação dos seus olhos.

nos seus olhos eu encontro o seu calor.