Vers' bizarre adventures

Blog pessoal onde vou publicar tudo que estiver coçando no meu cérebro. Apesar do nome, nunca assisti JoJo.

Segundou (de novo e de novo e de novo...)

Estava com um bloqueio de escrita faz uns dias, então decidi reclamar da segunda feira no meu diário. A entrada até que ficou interessante, então decidi publicar aqui. É meio edgy, me perdoem:

“Enfim, pensando em como é muito difícil se comprometer com certas coisas se você não acredita que elas façam sentido. Governo, trabalho, hierarquias... Todas essas coisas são arbitrárias e servem apenas como ferramenta de coesão social e exploração. Não é natural, muito menos justo. Essa coesão existe em prol dos poderosos, para manter o fluxo de dinheiro fluindo, sempre em direção daqueles que já tem demais. Essas coisas se alimentam da exploração e da miséria daqueles que não tem poder político e a maior tragédia é ver algumas (muitas) dessas pessoas tomando partido do chicote. Ademais, toda a segunda-feira é um exercício de reflexão sobre a vida que levamos nesse mundo. Sobre o absurdo de tudo isso, sobre como sempre queremos fugir para outro lugar, outro tempo, qualquer coisa que possibilite um pouco mais de satisfação e propósito.

Eu não acredito (no sentido de não ter fé) na vida que eu levo. Acho meu emprego uma coisa artificial e ridícula, que todos parecem levar a sério demais. Como se houvesse algum segredo no fim da jornada, como se dedicar a maior parte dos dias – dos seus melhores dias – em um escritório fechado e gelado, sem ver a luz do Sol direito, em troca de uns títulos aleatórios como “gerente”, “supervisor” ou coisa que o valha fosse consertar o vazio aparentemente inescapável de solidão e falta de propósito. Para não dizer nada do estresse crônico e do fato de que nós, enquanto sociedade, aparentemente não conseguimos viver mais sem tomar remédios para comer, não comer, dormir, acordar, prestar atenção em alguma coisa por mais de 30 segundos e para não ter uma crise de pânico no meio do escritório. Não acho que mudar de trabalho me faria mais feliz, já todo o trabalho, mas talvez especialmente o trabalho administrativo, é praticamente sem sentido por natureza dentro desse capitalismo tardio dos infernos. Eu existo para tornar algum idiota ricasso ainda mais rico. Que bela merda.

Imagino que a busca por felicidade seja fútil por natureza – já diziam isso muito antes de inventarem o capitalismo – mas pode ser que desejar um pouco mais de sentido seja razoável. Por outro lado, que sentido exatamente? Existencialmente, a vida é sem sentido mesmo, a não ser que você acredite em alguma religião ou sei lá. De resto, o único sentido das coisas é que um dia a gente morre e acabou. Tudo entre o dia que nascemos e o dia que morremos é meramente um episódio filler muito longo e, sejamos francos, meio inútil e tedioso. A vida não tem pretensões além de simplesmente ser, não tem propósito ou função. Se você combinar cadeias de carbono de forma suficientemente complexas, vai terminar com essa aberração capaz de se reconhecer no espelho e condenada ao sofrimento por um tempo muito, muito curto, mas que leva uma eternidade para acabar. Enfim, segundamos mais uma vez. Ansiosa para sexta, menos ansiosa para começar tudo de novo semana que vem... Mas pelo menos fiz um brownie hoje cedo que ficou ficou uma delícia.”

Sexualidade na adolescência: um assunto díficil

Se tem um tema que me fascina desde a adolescência, é a sexualidade. Isso se dá em parte por eu não performar a minha sexualidade da maneira esperada. Basta dizer que passei pela evento canônico de ser taxada de lésbica na escola e que mais tarde me descobri dentro do espectro arromântico. Inclusive, esse assunto provavelmente vai ser uma publicação a parte no futuro.

O ponto é que o descobrimento da sexualidade é uma fase importante do desenvolvimento humano e, nos dias de hoje, uma forma pela qual fazemos isso é através da mídia. Seja com séries e filmes, romances, animes ou jogos, muitos adolescêntes tem seu primeiro contato com esse mundo através das mídias, onde vão explorar novas ideias e possibilidades.

Até aqui, acho que está tudo bastante razoável. O problema começa quando vemos que sexualidade não é aula de educação sexual na escola, para as poucas que tem isso, mas sim um aspecto da psiquê humana que pode ser bastante sombrio. Também é tabu. Com isso, abrimos a caixa de Pandora, especialmente quando falamos da sexualidade das mulheres.

Temos uma sociedade caminhando a passos largos de volta para os braços do conservadorismo, mesmo entre as pessoas mais jovens, e isso teve uma consequência interessante: mais e mais, vê-se um discurso de proteger as crianças de conteúdo sexual. Não é uma ideia nova, no passado houveram outras iniciativas assim, como o infame código Hays nos Estados Unidos ou aquela vez que o Crivella censurou um livro com personagens gays na Bienal. Geralmente essas iniciativas na verdade funcionam como uma forma de, lentamente, ilegalizar a comunidade queer no geral, ao considerar que tudo que diz respeito ao meio LGBTQ+ é, necessáriamente, conteúdo sexual e do tipo mais sórdido. Um consequência disso, que acaba afetando até aqueles que não são da comunidade LGBTQ+, é o afastamento dos jovens de maneiras de explorar a sexualidade de forma segura, através da ficção.

Explico: como disse antes, a sexualidade tem traços sombrios, principalmente no que diz respeito a fetiches e dinâmicas possíveis no ambito sexual. Nem preciso ir muito longe para explicar o que quero dizer. Você, leitore, teve uma obsessão em vampiros ou lobisomens por acaso? Se você for um pouco mais jovem, a criatura mística que alugou um triplex na sua cabeça foram os Fae Folk? Estou fazendo referência aqui a duas sagas de livros que fizeram muito sucesso entre o público jovem: Crepúsculo e ACOTAR. Pessoalmente, prefiro os vampiros da série de TV The Vampire Diaries e fui hater do Edward, por que não conseguia entender como em um mundo onde Daemon Salvatore existe, as pessoas iam preferir o vampiro sem sal da Stephenie Mayer, mas digresso.

Essas duas sagas, além de terem personagens sobrenaturais e serem Best Sellers no New York Times, tiveram outra característica em comum: polêmica. Supostamente, as jovens que leram essas obras, ou estavam sob risco de romantizar o relacionamento tóxico entre Bela e Edward, ou estavam lendo pornô, no caso de ACOTAR. Há até quem diga que o gênero de romantasia, do qual a série de livros da Sarah Maas faz parte, está viciando os leitores em pornografia.

Ah, e Crepúsculo deu origem ao inesquecível e odiado 50 Tons de Cinza.

Me acompanhe por um segundo aqui. Não estou afirmando nada sobre a qualidade das obras, nem estou falando das controvérsias envolvendo as autoras enquanto pessoas, estou falando da reação que a sociedade em geral teve a respeito dessas obras, por que eu acredito que essa reação pode nos dar uma pista sobre o medo de deixar os adolescêntes lerem conteúdos mais sérios. Veja bem, Edward é um personagem problemático e isso funciona na história por algumas razões que vou discutir mais a frente e sim, ACOTAR tem cenas de sexo. Mas as duas obras, tenho a impressão, sofreram de uma reação exagerada.

Começemos pelo Edward. O personagem dele ser meio ruim das ideias serve um propósito claro: ele precisa ser um “bad” boy – entre aspas já que eles só fazem sexo depois do casamento – por que a Bella quer ser uma good girl, por que é isso que se espera das mulheres. Ser uma boa moça cria uma barreira para o protagonista masculino (que é uma fantasia, não uma pessoa real) superar a “força”. A culpa e vergonha associadas ao desejo para as mulheres não é novidade para ninguém e acho que faz sentido existir mecanismos dentro de histórias escritas majoritariamente de mulheres para mulheres para contornar essas questões. O bad boy é um desses mecanismos.

Partimos agora para ACOTAR. Esse livro foi o ponta pé inicial para a popularidade do gênero de romantasia e também causou algum escandalo na época por ter algumas cenas de sexo a mais do que o esperado, a ponto de dizerem que era só pornô com fadas. Bom, eu li a trilogia e não vi nada demais. Tem algumas cenas de sexo, nenhuma muito longa ou particularmente explicita. No primeiro livro temos mais a presença de inuendos e cenas que terminam antes do rala e rola de fato. Certamente nada que justifique a má fama. Aqui tem uma lista de todos os momentos mais picantes dos livros.

Me incomoda um pouco essa obsessão com tornar tudo que trate de temas eróticos e/ou mais sombrios como +18. Não estou dizendo para largar a criançada no PornHub, mas vejo que as vezes qualquer coisa mais sensual ou mais sombria já recebe o rótulo de pornô ou dark romance. Fico me perguntando aqui se essas mesmas pessoas que criticam tão duramente mídias como as citadas nos paragrafos anteriores não lembram mais como era estar na puberdade, ou se o que acontece é que os adultos querem preservar seu próprio pudor e tentam apagar da mente que uma parte considerável das pessoas de 13 anos provavelmente já está se questionando sobre sexo, têm uma paixonite molhada por pelo menos uma celebridade e que tá tudo bem. A ficção entra como um aliado perfeito nesse momento, por que explorar fantasias no contexto de... bem, fantasia, reduz a zero qualquer risco de violência, ISTs ou gravidez indesejada.

Além disso, ainda temos uma questão de gênero no desconforto generalizado em relação à sexualidade na adolescência: as mídias voltadas para o público feminino sofrem um escrutínio maior do que mídias para o público geral ou para o público masculino. Parte disso vem da preocupação a respeito da romantização de relacionamentos abusivos.

Essa é uma discussão complicada, ainda mais dentro da faixa etária que estamos discutindo. Na minha época, eu lia fanfics em lugares obscuros da internet, tipo o Tumblr e o Wattpad e nenhum aviso “minors DNI” foi particulamente efetivo. E, no fim, aprendi bastante sobre o que NÃO é aceitável, por que geralmente os autores são bastante transparentes sobre o tipo de conteúdo presente em suas obras e aprendi a decidir por conta própria o que era OK e o que era demais. Acho que isso fez mais por mim do que viver em uma redoma de conteúdo family-friendly.

Por isso, sempre torço um pouco o nariz para argumentos do tipo “vão romantizar comportamento tóxico XYZ”. Temo que estamos subestimando demais os jovens. Me parece essencial que as discussões sobre o que é um relacionamento saudavél, ou não, existam sem sufocar expressões normais, por mais que um pouco mais dark, da fantasia sexual das pessoas.

Podemos fazer muito mais pelos jovens ao simplesmente colocar os avisos de conteúdo adequados, ensina-los a navegar de forma autonoma pelos conteúdos existentes para que eles possam julgar por si mesmo o que é adequado ou não e seguir em frente. Não podemos controlar as pessoas nem mudar a natureza delas. É claro que sempre vai ter alguém que vai fazer merda com base em algo que viu na mídia, mas eis aí o livre árbitrio. O risco de cair em puritanismo é muito grande quando tentamos controlar que tipo de conteúdo é aceitável ou não. Isso não significa que podemos abrir mão da responsabilidade dos adultos de cuidar das crianças de forma adequada, quero dizer apenas que crianças crescem e que temos que deixar elas crescerem.


Eu sinto que falei um monte, mas não sei se consegui ser consistente no argumento, então segue abaixo alguns links de gente mais inteligente que eu falando sobre esse tema:

  • “Twilight”, no canal Contrapoints ensaio em vídeo sobre sexualidade das mulheres, aspectos problemáticos de convensões narrativas populares e tabus da sexualidade feminina partindo de Crepúsculo
  • Análise de Dandadan enquanto alegoria para o desenvolvimento na adolescência, inclusive sexual

Primeiro blog, primeira publicação

Olá, pessoa da internet. Aqui é Vers e esse é minha primeira publicação no meu primeiro blog.

Acho que podemos começar com uma introdução básica: meus pronomes são a/ela/a, faço 22 anos no Carnaval, trabalho em dois empregos, um estágio e um bico e sou uma estudante no meu último ano de faculdade (que talvez vire o último ano + meio). Faço tecnólogo, caso queria saber. EAD também. Talvez você possa definir meu ensino superior como “uniesquina”. Foi uma escolha estratégica. Pensei que, se fosse para ser uma trabalhadora precarizada, não ia querer pagar caro na facul e, além do mais, os cursos de pós graduação parecem mais interessantes que a graduação em si. Mas a bem da verdade mesmo, eu só queria acabar rápido com essa etapa da minha vida e preservar minha rotina de sono impecável (durmo de 8h a 9h por noite, todas as noites).

Escrevo do meu celular. Aliás, faço tudo no celular. Sou uma GenZ sem PC, o que é comum hoje em dia. Apesar disso, tecnologia me interessa muito. Sou entusiasta da federação, da privacidade e do open source. Você vai me encontrar no Mastodon, no Pixelfed e aqui, no Writefreely, mas não vai me achar no Facebook, no Instagram, no ex-Twitter ou no Bluesky. As únicas redes comerciais que uso são o Tiktok e o Whatsapp e sinceramente, a vida é melhor assim. Nada como sair desses lugares porcamente moderados, vitriólicos e abertamente fascistas e respirar um ar mais puro na federação. É como se mudar de São Paulo para o interior e se perguntar por quê, afinal, você demorou tanto para fazer isso.

Criar um blog era o próximo passo natural da minha mudança de ambiente na internet e aqui estamos. Não estou esperando que muitas pessoas vejam esse blog, mas vou deixar linkado nos meus outros perfis da federação e com sorte, alguém vai achar interessante. Já posso dizer com certeza que estou muito empolgada com esse projeto. Tem um milhão de coisas que eu poderia postar e já tenho o primeiro rascunho para uma publicação, que escrevi ontem originalmente para postar como thread no Mastodon.