enricaus.

coleção de rodas samsáricas.

nenhuma madrugada em claro tem o poder de me deixar tão paralisado e aterrorizado quanto você tem em mim.

você não é a parte que falta pra minha felicidade. você não é destinada a mim, eu não sou destinado a você.

você é como o que eu acabei me esquecendo de ser, sonhar, vestir, me tornar.

risos ecoam das minhas falhas tentativas de te decifrar. seus detalhes são tantos que não dá pra sentir quem você é arranhando sua pele quando ninguém tá por perto.

qualquer passo errado que você der poderia facilmente me esmagar. então, por favor, olha pra frente sempre.

esse poema não é um pedaço de um romance ainda não escrito, com esses olhares errantes cortando as páginas e um amor moderno escorrendo pelo papel. muito menos uma declaração, uma homenagem ou uma carta romântica marcada em vermelho.

esse poema é pra dizer que eu tenho medo de você. esse poema é frio, cru, escasso e controverso.

esse poema é pra dizer que você me deixa confuso, me mantendo enfeitiçado pela liberdade da sua alma.

esse poema é sobre ansiedade e tremer o corpo inteiro pra tentar te beijar, sem saber por que caralhos tremo tanto.

esse poema é sobre beijos e como eles me deixam totalmente ridículo. é sobre estar perto e mesmo assim me sentir longe.

eu não te alcanço quando você corre. isso nunca foi exaustão ou cansaço. eu quero te ver por completo.

te ver por completo não chega nem perto de te ver.

esse poema é sobre fugir de você e correr até não conseguir mais. é sobre cantar em silêncio sem querer ser ouvido, e ao mesmo tempo querer.

é sobre tentar escrever e acabar não escrevendo nada.

esse poema é pra te dizer que eu não quero nem fudendo me apaixonar por você. mas também dizer que se fosse esse o caso, eu beijaria o tempo.

esse poema não é sobre amor à primeira vista, mas eu espero muito que você deslize de novo pelos meus olhos.

entre a ordem representativa das coisas e a expressão do que sinto pelos sentidos, existe uma ponte prestes a desabar.

é sobre pontes que eu tenho pensado esses dias.

o que é mais real que a matéria? o que é mais irreal que a matéria?

um leãozinho aprende a caçar. ansioso por liberdade, devora o ar da savana. crescer é entrar em guerra consigo mesmo, ou o que um pessimista pronunciaria como guerra contra o significado da existência e sua existência como significado.

o mundo como vontade e representação. a fatalidade da vida está em viver.

objetos flutuantes na vida de outras pessoas. criação é só um sinônimo pra transvaloração.

mas pelo menos, enquanto o sol nascer, estaremos vivos. porque importância não tem nada a ver com grandeza.

existe força nas coisas pequenas.

às vezes são minhas péssimas decisões ou os nossos olhares de brasa. às vezes é minha gatinha amassando pãozinho, uma plantinha gordinha ou o seu sorriso de mar. às vezes são as palavras, os desejos, a perda do meu controle ou a minha incapacidade de sentir as coisas com calma.

às vezes é saudade e às vezes é o calor dos seus olhos. às vezes são as marés e as ondas e às vezes é o céu.

dança de galáxias. da ponta dos meus dedos eu sinto sua pele respirar.

às vezes é descobrir o sofrimento e depois a cura para o sofrimento.

me ensina a ser mais forte, me ensina a ser mais de mim mesmo.

que eu adormeça em um nirvana mundano e impuro e tão lindo justamente por ser tão impuro.

sou grato por você ser quem você é, se fazendo existir nessa existência tão doce e com sabor de abraço.

às vezes é acordar e logo depois dormir. às vezes são os almoços e os vinhos baratos das nossas noites perdidas.

meu olhar atravessa as paredes do meu quarto, mas nos seus olhos ele se demora. eu às vezes escolho ficar.

olhos castanhos. ressaca do mar.

às vezes é a lua, como qualquer outra pessoa no mundo que ama a lua. você é um lunático. o seu hospício às vezes habita os meus sonhos.

silêncio, os adultos estão conversando. schiiii.

sempre queremos o eterno e esperando pelo eterno nós morreremos. porque eternidade não é tempo, eternidade é presença.

eu decorei seu cheiro.

que dionísio fuja de seu mundo inteligível de ternura e se deite no colo de goethe. que eles se amem e que desse amor nasça o selvagem.

os amores que colecionamos um dia vão se tornar dentes de leão e voar pelo vento e pelo acaso.

eu te amo porque você é um estrangeiro nas minhas terras inférteis. você há de passar e eu hei de te ver partir.

me diz depois se o café da manhã foi bom.

política e o controle das massas. massas e a morte das identidades. exercer a sagrada arte de pensar enquanto suas colônias na África morrem do trabalho escravo.

propriedade e o roubo da terra. antropocentrismo e a morte da vida animal. a revolução é uma luta dos mundos sensíveis.

moralismo e o fim da moralidade. igreja e o roubo das consciências. o estado é poder, o poder em imagem e semelhança de um homem. que o homem seja abolido com o gênero.

a castidade corrompe nossa energia, e nossa energia vem do sexo. primeiro, vocês nos tomam nossas vidas, depois roubam nosso prazer. seja a guerra dos mundos guerra pelo direito à felicidade.

não há liberdade sem igualdade. não há igualdade sem liberdade. uma filosofia pra todos ou uma filosofia pra ninguém.

o trabalho nos faz humanos e através dele nós pensamos. mas nunca existiu trabalho no mundo. o que existe é o nono andar, e dele vocês os jogam.

o diabo é branco e exerce o mal enquanto indiferentemente pinta suas unhas.

meus privilégios e o roubo dos seus direitos. minha riqueza fruto da sua miséria. nossas carnes temperadas têm o sangue da inocência.

cristianismo e a morte de cristo. religião e a morte de deus. o ocidente sequestra o oriente e transforma o preto em branco. o branco é a rendição e a covardia.

nossa bandeira é negra.

desumanizaram nossos sentimentos e tornaram nossa dança um pecado. o que vocês chamam de perverso, eu chamo de amor.

amo tudo que é decadente, e zaratustra quer agora o seu ocaso.

a polícia é a morte dos pobres. a segurança da burguesia é a morte dos pobres. a moderação é a morte dos pobres. as penitenciárias são a morte dos pobres. carandiru é o lema da bandeira. revolução burguesa francesa é a hipocrisia da classe. a guerra contra as drogas é guerra contra os negros.

liberdade ou autoridade, quando autoridade é morte? e sempre é.

vocês destroem, humilham, lucram, criminalizam, corrompem e torturam. encarceram bodes expiatórios em nome da boa cidadania e dos bons costumes.

isso não é liberdade. isso é mercado. que deus salve a rainha da independência do povo.

liberdade só é liberdade quando compartilhada. liberdade só é liberdade se infinita. que sejamos livres.

livres e marginais.